Apesar de não ser uma idéia nova, o cristianismo libertário ou anarco-cristianismo é, provavelmente, uma das vertentes menos conhecidas dentro da filosofia anarquista. Isso porque, os anarquistas tradicionais repudiam a religião, pois a consideram mais um meio de controle da sociedade, aliado ao Estado. E se analisarmos a história da igreja de uma forma superficial, vai realmente parecer que eles estão certos. Do mesmo jeito, cristãos devotos costumam abominar a anarquia acreditando ser uma fonte de desordem. (Mas falaremos disto em outra ocasião, ok?)
Então, o que é o cristianismo libertário e o que ele propõe?
Os anarquistas cristãos se opõem a todo tipo de tirania local ou global e procuram mostrar, com base nos ensinos de Jesus e outras passagens bíblicas, que a única fonte legítima de autoridade é Deus, e ninguém mais. Rejeitando assim qualquer outra forma de autoridade secular ou eclesiástica. Para eles, a liberdade é justificada espiritualmente através dos ensinamentos de Jesus. Afirmam, por exemplo, que, uma das razões pela qual Jesus Cristo foi perseguido foi porque tratava com desdém tanto o governo romano quanto os líderes religiosos de seu tempo. Foi condenado por Roma por ser considerado por todos como um “fora da lei”. (excluindo, é claro, a parte espiritual do momento).
Anarquistas cristãos são em sua grande maioria pacifistas. Se opõem ao uso da violência argumentando que cristianismo e violência simplesmente não combinam, já que a bandeira de todo cristão verdadeiro é a paz e o amor ao próximo. Aliás, a idéia de não-violência NÃO é usada apenas pelos cristãos libertários, outros movimentos do anarquismo também fazem o mesmo. (porém não todos!)
Contudo, vertentes libertárias como a dos taboritas no século XV, sob o comando militar de Jan Zizka, baseadas em passagens como Evangelho de Mateus 10:34, Evangelho de Lucas 22:36, Eclesiastes 3:1-10, entre outras, não hesitaram em usar a força como instrumento de legítima defesa contra a opressão da igreja católica e da nobreza feudal.
Aqui é preciso entender uma coisa: O fato de não usar a violência contra aqueles que estão no poder, não significa ficar sem fazer nada! Movimentos pacifistas como o do líder indiano Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr são provas de como tais movimentos podem ser muito eficientes. Infelizmente, hoje em dia parece que as igrejas transformaram o conformismo em uma grande virtude e o Estado possui uma “aura de santidade” devendo ser obedecido sem questionamentos. Porém, se refletirmos direito, veremos que o próprio cristianismo é uma rejeição ao poder e uma luta contra o mesmo; nisto ele pode ser muito mais subversivo do que a maioria das pessoas pensam! Não é a toa que tantos morreram e outros caíram na ilegalidade ou foram presos e torturados tão somente por abraçar a fé cristã e se recusar obedecer a diversas ordens e leis iníquas vindas de governos extremamente despóticos.
Uma sociedade anarquista é viável?
Será que uma sociedade anarquista é possível em nossos dias? Para o mundo todo é lógico que não! E francamente, o anarquista que achar que sim, ou é ingênuo ou é burro.
A inviabilidade do anarquismo se tornar uma realidade mundial se deve ao fato do ser humano ser extremamente egoísta. Duas das maiores características humanas são a cobiça e a fome pelo poder. Assim, se destruíssemos o Estado e déssemos às pessoas a liberdade total de escolha, elas inevitavelmente passariam a cobiçar tudo o que é do seu próximo, Jacques Ellul comentou em seu livro ‘Anarquia e Cristianismo’ que esse tipo de ganância humana nunca fica satisfeita, pois uma vez conquistado um objeto de desejo a atenção se volta para outra coisa. Prevaleceria então a lei do mais forte. E isso de forma alguma pode ser chamado de liberdade. A humanidade seria destruída.
Mas em pequenas comunidades cristãs o cristianismo libertário funcionaria? Tudo indica que sim!
Essa seria a vida simples defendida pelo autor russo León Tolstoi no final da sua vida. E a história está repleta de movimentos com os ideais do anarquismo cristão como os anabatistas, a comunidade Amish, os Quakers entre tantos outros. Para isso, basta que os cristãos vivam exatamente o que Jesus ensinou, especialmente esses versículos abaixo:
“Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas". Mateus 7:12
"Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros, pois aquele que ama seu próximo tem cumprido a lei". Romanos 13:8
"Amá-lo de todo o coração, de todo o entendimento e de todas as forças, e amar ao próximo como a si mesmo é mais importante do que todos os sacrifícios e ofertas". Marcos 12:33
"Pois estes mandamentos: "Não adulterarás", "não matarás", "não furtarás", "não cobiçarás", e qualquer outro mandamento, todos se resumem neste preceito: "Ame o seu próximo como a si mesmo". Romanos 13:9
Como podem ver, se o homem conseguir crucificar seu cobiça e sua sede de poder é perfeitamente possível existir uma sociedade, ainda que pequena, sem nenhum governo estabelecido. Nossa liberdade é limitada ÚNICAMENTE pelo amor, e Deus é amor, logo Ele é o nosso limite. Se as pessoas conseguissem compreender a grandeza destes ensinos, não precisaríamos de leis. Elas foram feitas para punir aquele que destrói e ameaça o bem estar do seu próximo. Não seja um deles!
Em breve voltaremos a falar mais sobre esse assunto tão amplo e interessante. Deus abençoe a todos!
Para quem quiser saber mais. Os ideais do anarquismo cristão estão presentes em movimentos como:
Os anabatistas – Antiga ala radical da reforma protestante, os anabatistas rejeitam regras, mas não são apolíticos como alguns julgam; São sim, verdadeiros anarquistas. Entendem que igreja não é subordinada a nenhum governo humano ou hierarquias religiosas.
Comunidade Amish - um grupo religioso cristão anabatista baseado nos Estados Unidos e Canadá. São conhecidos por seus costumes conservadores, como o uso restrito de equipamentos eletrônicos, inclusive telefones e automóveis. Se vestem com roupas muito parecidas as usadas no século XVlll.
Os Quakers – Também chamados de ‘Sociedade religiosa dos amigos’, são conhecidos pelo pacifismo e pela simplicidade. O movimento surgiu em 1652 pretendendo restaurar a fé cristã original após séculos de apostasia, reagindo contra o que consideravam abusos da igreja Anglicana. Atualmente a maioria das comunidades quakers ficam na África, sendo a maior delas no Quênia.
Outros movimentos importantes - Mennonitas, Huteritas, Taboritas, alguns dissidentes ingleses, Doukhbors e o Movimento de Trabalhadores Católicos
Principais pensadores:
Kierkegaard; Henry David Thoreau; Leon Tolstói Nikolai Berdayev; Ammon Hennacy; Jacques Ellul; Dorothy Day e Watchman Nee.
Fontes de pesquisa:
Livro Anarquia e Cristianismo (Jacques Ellul)
Anna Karenina e outras obras de León Tolstoi
Wikipédia: Anarquismo Cristão, Anabatistas, Quakers
Vídeo do professor Tiago Menta no Youtube. (Consulte!)
Então, o que é o cristianismo libertário e o que ele propõe?
Os anarquistas cristãos se opõem a todo tipo de tirania local ou global e procuram mostrar, com base nos ensinos de Jesus e outras passagens bíblicas, que a única fonte legítima de autoridade é Deus, e ninguém mais. Rejeitando assim qualquer outra forma de autoridade secular ou eclesiástica. Para eles, a liberdade é justificada espiritualmente através dos ensinamentos de Jesus. Afirmam, por exemplo, que, uma das razões pela qual Jesus Cristo foi perseguido foi porque tratava com desdém tanto o governo romano quanto os líderes religiosos de seu tempo. Foi condenado por Roma por ser considerado por todos como um “fora da lei”. (excluindo, é claro, a parte espiritual do momento).
Anarquistas cristãos são em sua grande maioria pacifistas. Se opõem ao uso da violência argumentando que cristianismo e violência simplesmente não combinam, já que a bandeira de todo cristão verdadeiro é a paz e o amor ao próximo. Aliás, a idéia de não-violência NÃO é usada apenas pelos cristãos libertários, outros movimentos do anarquismo também fazem o mesmo. (porém não todos!)
Contudo, vertentes libertárias como a dos taboritas no século XV, sob o comando militar de Jan Zizka, baseadas em passagens como Evangelho de Mateus 10:34, Evangelho de Lucas 22:36, Eclesiastes 3:1-10, entre outras, não hesitaram em usar a força como instrumento de legítima defesa contra a opressão da igreja católica e da nobreza feudal.
Aqui é preciso entender uma coisa: O fato de não usar a violência contra aqueles que estão no poder, não significa ficar sem fazer nada! Movimentos pacifistas como o do líder indiano Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr são provas de como tais movimentos podem ser muito eficientes. Infelizmente, hoje em dia parece que as igrejas transformaram o conformismo em uma grande virtude e o Estado possui uma “aura de santidade” devendo ser obedecido sem questionamentos. Porém, se refletirmos direito, veremos que o próprio cristianismo é uma rejeição ao poder e uma luta contra o mesmo; nisto ele pode ser muito mais subversivo do que a maioria das pessoas pensam! Não é a toa que tantos morreram e outros caíram na ilegalidade ou foram presos e torturados tão somente por abraçar a fé cristã e se recusar obedecer a diversas ordens e leis iníquas vindas de governos extremamente despóticos.
Uma sociedade anarquista é viável?
Será que uma sociedade anarquista é possível em nossos dias? Para o mundo todo é lógico que não! E francamente, o anarquista que achar que sim, ou é ingênuo ou é burro.
A inviabilidade do anarquismo se tornar uma realidade mundial se deve ao fato do ser humano ser extremamente egoísta. Duas das maiores características humanas são a cobiça e a fome pelo poder. Assim, se destruíssemos o Estado e déssemos às pessoas a liberdade total de escolha, elas inevitavelmente passariam a cobiçar tudo o que é do seu próximo, Jacques Ellul comentou em seu livro ‘Anarquia e Cristianismo’ que esse tipo de ganância humana nunca fica satisfeita, pois uma vez conquistado um objeto de desejo a atenção se volta para outra coisa. Prevaleceria então a lei do mais forte. E isso de forma alguma pode ser chamado de liberdade. A humanidade seria destruída.
Mas em pequenas comunidades cristãs o cristianismo libertário funcionaria? Tudo indica que sim!
Essa seria a vida simples defendida pelo autor russo León Tolstoi no final da sua vida. E a história está repleta de movimentos com os ideais do anarquismo cristão como os anabatistas, a comunidade Amish, os Quakers entre tantos outros. Para isso, basta que os cristãos vivam exatamente o que Jesus ensinou, especialmente esses versículos abaixo:
“Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas". Mateus 7:12
"Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros, pois aquele que ama seu próximo tem cumprido a lei". Romanos 13:8
"Amá-lo de todo o coração, de todo o entendimento e de todas as forças, e amar ao próximo como a si mesmo é mais importante do que todos os sacrifícios e ofertas". Marcos 12:33
"Pois estes mandamentos: "Não adulterarás", "não matarás", "não furtarás", "não cobiçarás", e qualquer outro mandamento, todos se resumem neste preceito: "Ame o seu próximo como a si mesmo". Romanos 13:9
Como podem ver, se o homem conseguir crucificar seu cobiça e sua sede de poder é perfeitamente possível existir uma sociedade, ainda que pequena, sem nenhum governo estabelecido. Nossa liberdade é limitada ÚNICAMENTE pelo amor, e Deus é amor, logo Ele é o nosso limite. Se as pessoas conseguissem compreender a grandeza destes ensinos, não precisaríamos de leis. Elas foram feitas para punir aquele que destrói e ameaça o bem estar do seu próximo. Não seja um deles!
Em breve voltaremos a falar mais sobre esse assunto tão amplo e interessante. Deus abençoe a todos!
Para quem quiser saber mais. Os ideais do anarquismo cristão estão presentes em movimentos como:
Os anabatistas – Antiga ala radical da reforma protestante, os anabatistas rejeitam regras, mas não são apolíticos como alguns julgam; São sim, verdadeiros anarquistas. Entendem que igreja não é subordinada a nenhum governo humano ou hierarquias religiosas.
Comunidade Amish - um grupo religioso cristão anabatista baseado nos Estados Unidos e Canadá. São conhecidos por seus costumes conservadores, como o uso restrito de equipamentos eletrônicos, inclusive telefones e automóveis. Se vestem com roupas muito parecidas as usadas no século XVlll.
Os Quakers – Também chamados de ‘Sociedade religiosa dos amigos’, são conhecidos pelo pacifismo e pela simplicidade. O movimento surgiu em 1652 pretendendo restaurar a fé cristã original após séculos de apostasia, reagindo contra o que consideravam abusos da igreja Anglicana. Atualmente a maioria das comunidades quakers ficam na África, sendo a maior delas no Quênia.
Outros movimentos importantes - Mennonitas, Huteritas, Taboritas, alguns dissidentes ingleses, Doukhbors e o Movimento de Trabalhadores Católicos
Principais pensadores:
Kierkegaard; Henry David Thoreau; Leon Tolstói Nikolai Berdayev; Ammon Hennacy; Jacques Ellul; Dorothy Day e Watchman Nee.
Fontes de pesquisa:
Livro Anarquia e Cristianismo (Jacques Ellul)
Anna Karenina e outras obras de León Tolstoi
Wikipédia: Anarquismo Cristão, Anabatistas, Quakers
Vídeo do professor Tiago Menta no Youtube. (Consulte!)
8 comentários:
Adorei! uma verdadeira aula de história. Parabéns ;*
bjo
Ana Carina CCR
Eu não acredito em comunidades alternativas, acredito sim no poder individual que cada um tem em se desenvolver e ajudar o próximo.
Ola Koiote, li o post todo e achei muito interessante. Bem, essa história de libertário, Jesus de certa forma foi um libertário e um revolucionário na época, mas ele também deixou bem claro que as autoridades foram constituidas por Deus, e ele mesmo obedeceu a todas elas, deixando bem claro que elas tinham um poder e autoridade limitadas, e até pago imposto para o Império Romano, agora esse grupo que pretende passar por cima das autoridades terrenas sob a alegação de que a autoridade de Deus sobrepuja á tudo, acho rebelde e antibíblica.
Um belo post, parabéns e abração pra ti.
E ae velho!
Apesar de eu ter pensamentos relativamente parecidos com este movimento nunca tinha lido a respeito.
Mas acho muito extremista; Não creio que uma sociedade cristã sobreviva sem "autoridade"; Mas não como esses manipuladores que vemos nos palcos das igrejas, que fantasiam suas ambições pessoais com fantasia, misticismo, indução de pensamentos e falsa religiosidade.
uhmm... Vale lembrar que a sociedade dos amigos (os chamados Quakers) e os Amish sobrevivem até hoje sem autoridade eclesiástica.
No entanto é muito difícil manter uma comunidade, ainda que pequena, baseada unicamente no respeito e no amor. um pena!
Um amigo. ;)
Obrigado Koiote pelo comentário lá, abração pra ti.
Obrigado por utilizar de meu trabalho para também produzir conteúdo e conhecimento na rede; abraços do amigo prof. Tiago Menta.
Aproveitando, convido a todos os leitores do camarada Koiote e conhecer os meus blogs
http://proftiagomenta.blogspot.com
http://pedacinhosdoconhecimento.blogspot.com
Abraços anarquistas para todos...
Prof. Tiago Menta
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